quinta-feira, 21 de julho de 2011

Uma cor amarela todo dia...♥

Particularmente, eu sou otimista em relação ao desbotamento do vermelho da paixão. Vou explicar: o oxigênio, certo, acaba com tudo, é a lei do mundo. Acaba inclusive com os relacionamentos. E o vermelho que um dia ardia com o teu amor, hoje desbota, fica quase amarelo. Mas é isso que eu digo o contrário, eu sou contestador dessa postura pessimista, e isso é quase vanguardista se tratando de mim. Eu acho que descobrir o amarelo do amor é amar sem o pudor de antes, e não sem o fervor.

Eu sentia teu corpo ferver e ainda sinto, mas é mais freqüente sentir o cheiro do teu pescoço enquanto o macarrão é que ferve no fogo. Essas singelas belezinhas do cotidiano. E numa cidade que é suja e só, eu não preciso mais ser, encontrei o meu lugar e amo me acostumar. Acostumar inclusive com a roupa espalhada, o sabonete empapado e o pente jogado no chão. É que ela é meio desorganizada.
E dizem que miojo é ruim. Miojo é ótimo, só que você tem que entender que não é sempre ótimo, até porque miojo não é pra comer todo dia. Entrar no desafio de amar todo dia é como desenvolver a técnica de gostar de comer miojo. Ver a beleza de um cabelo assanhado, de um beijo na inércia, de um chinelo espalhado pela casa, de um bonito que ficou feio, mas que o costume deixou bonito de novo. É o charme pacífico e satisfeito de um amor amarelo.
E o amarelo é a cor do nosso miojo. É a cor da margarina e do pão. Da boca de manhã, amassada e sem batom. Das calcinhas dos dias normais. Da camisinha e dos finais de semana em casa. É quase a cor da televisão que vemos enquanto não passa nada. Não é a cor da saudade de quando eu vou embora, e sim da tarde de outrora, já entrando na boca da noite e ela pegando no sono. É amarela a cor do tapete em que ela está deitada, no centro da sala, em plena nove da noite. A cidade ainda não dorme, ela é que é desorganizada.

Foi uma arte do dublê... esse texto nascer aqui.

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