Ela andava a passos largos na rua e a cada dois passos pra frente era um pra trás, e eu ali sentada a beira mar observando aqueles passos rápidos e turbulentos. Sem muito destino ela parecia estar a mercê do tempo e sem um rumo certo ia a favor dovento, em suas mãos uma garrafa de qualquer bebida por mim desconhecida com metade de seu líquido branco balançando e às vezes espirrando pelo chão. Havia em seu bolso um cartão de passe de ônibus quase se jogando ao chão e ela ouvia em fones gigantes e cor de rosa alguma música triste. Eu que sempre acredito que nada está realmente perdido olhando aquela moço me perdi.
As vezes quando me sinto perdida triste ou desamparada confusa ou simplesmente solitária sento no banco a beira mar norte, frente ao Hélioponto e fico a observar as pessoas a passar. Fico com minha fértil imaginação tentando desvendar os segredos que cada corpo que corre ali ou passa andando carrega em si, imagino as histórias que cada pessoa tem a contar e os segredos que nunca irão revelar.
Não sou a única pesoa cheia de nostalgia nesse mundo mas me considero nostálgica demais e sortuda. Claro porque eu tenho uma sorte que chega a encomodar. Perco tudo num dia e ganho noutro, perco o emprego num dia e arrumo outro no seguinte. Brigo num dia e acordo sorrindo. Meu lema é sempre acreditar que vai dar certo. Embora não dê.
Ando sentada no banco por dias a fio a observar, estar moranod longe de casa e dos meus amigos me faz ser mais sozinha e me faz estar mais em mim, divido menos o que penso e consequentemente penso mais, observo mais e vivo mais o eu, o meu eu. E isso me deixa mais segura e com a cabeça mais no lugar, com a saudade mais reveladora e com os passos mais lentos.
Não bebo há semanas e isso me tem feito bem. Não fumo também, coisa que fiz e não me orgulho, mas que jamais repetirei. Parei de devorar doces, estava enchendo a cara de espinhas e parecia uma adolescente vestida de corselet e saia envelope nas reuniões. Ando me alimentando mal confesso, perdi uns quilos visíveis que me presentearam com uma anemia leve. Mas não fiz pouco caso e resolvi me cuidar mais.
Enquanto ia pensando em mim voltei os olhos na moça que ia já lá na frente com sua garrafa e notei que ela havia sentado no chão abraçado a garrafa chorava. Voltei a me esquecer e a imaginar a vida dela e tudo o que ela carregava, sorri. Sim eu sorri, porque nada que eu esteja passando pode ser pior que o que ela está passando. Eu ainda não me entreguei a bebida às musicas tristes aos passos rápidos largos e às lágrimas. Eu ainda posso continuar. Eu posso caminhar reto e devagar sempre olhando a frente. Avante. Voulá.
Um comentário:
Sempre se deu bem na escrita.
Saudades minha amiga!
Tati
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