terça-feira, 27 de abril de 2010

O Ipê e o Jasmin

Era setembro, início de primavera e muitas flores coloriam o Ipê amarelo frente à minha janela, um vento calmo trazia o cheiro das flores do jasmim que ficava em frente á empresa e estava tudo tão calmo que eu mal podia acreditar. Trabalhava na supervisão de Marketing de uma empresa cosmética e estava bom, não aspirava nada além da tranquilidade de supervisionar seis operadoras de tele-atendimento e manter sigilo sobre a minha (pouca) idade perante a responsabilidade que me era dada. Meu primeiro emprego de gente grande, eu tinha 17 anos, carteira assinada um bom salário e um certo alívio de não precisar iniciar como estagiária, apesar de ainda estar finalizando o terceiro ano.
O chefe saia sempre as dez da manhã e retornava próximo às 17:30 da tarde então quando os raros momentos de sossego reinavam eu aproveitava pra ler e pesquisar sobre os cosméticos da empresa. Era (e sou!) muito comunicativa e gostava muito (e gosto!) de fazer mil coisas ao mesmo tempo então estava sempre por dentro do que rolava no meu setor e nos demais.
Neste dia por volta das 16horas entrou na minha sala o chefe sisudo e antipático que eu mal falava comig e com as demais pessoas e com ele; uma loira linda, exuberante que tinha um metro e vinte só de pernas, ele como sempre, de terno mal passado (entregando que vir pra porto alegre e abrir uma filial da empresa do pai aos 26 anos e deixar a mãe no Paraná era algo ruim pra apresentação pessoal dele) , ela com um vestido verde musgo muitos colares e um relógio muito parecido com os que o Faustão usa; em tamanho e modelo. Até esta tarde, faziam quatro meses que estava trabalhando com eles, desde o dia em que a empresa abriu até aquele dia bonito de setembro eu era a supervisora novinha de seis mulheres que tinham idades entre 30 e 45 anos, não que isso seja ruim, mas era uma coisa estranha. Mas; naquela tarde por algum motivo, aquela loira bonitona mudou o rumo que as coisas estavam tomando pra mim.
Ela disse:
"-Tua voz é legal pra fazer uma coisa que chama de marketing via rádio, conhece? -nem me deixou responder e continuou- lá no Paraná insistem em chamar de Merchan, apartir de amanhã veste algo mais casual tira o terninho e essas roupas de senhora e vamos gravar uns comerciais pra rádio e tv comigo o táxi te pega aqui às oito, se não me achar lá tem instruções nesta pasta, boa sorte."

Tá, muito prazer, nem sei teu nome, nunca fiz um merchan, não sei onde fica essas rádios, quem vai cuidar disso aqui? Meu chefe nem me olhou mas vi que ele sorria quando virou pra mim e me deu boa sorte fechando a porta atras de si com a loira bonitona sem dar tchau. Ela ainda por cima me chamou de senhora? Quase um insulto ao meu terninho da Riachuelo que levei 3 meses pra pagar!
No outro dia estava eu dentro de um táxi que custou uma nota pra empresa, seguindo em direção à rede Pampa de comunicação, gravei em uma manhã sete merchan's almocei com o "Seu Gugu" recebi elogios e queixas pois falava rápido e alto demais no estudio o que de certa forma foi bom, pois a loira bonitona não estava lá como achei que estaria e tive de fazer tudo aos trancos e barrancos o que, de certa forma foi ótimo pois aprendi a improvisar.... e de lá por diante nunca mais voltei a supervisionar ninguém, nem a pisar mais na empresa, recebia via banco e se precisava de alguma informação sobre os produtos ia pra internet.
Daquele dia em diante andava de um lado pro outro pelas rádios com jeans, salto alto e blusinha pra cima e pra baixo falando e falando e fazendo propaganda.
Era o ápice! Me achei, ou melhor a loira bonitona que nunca soube o nome e nem me apresentou a ninguem mudou minha vida por todo o sempre, ela ouviu minha voz e achou que eu dava pra coisa. E como foi bom!
A carreira no rádio ou nos merchan's para TV cessaram quando soube da gravidez e agora fazem falta, porém me trouxeram tanta experiencia boa e deixaram tantos amigos presos nas ondas do rádio que muitas vezes durante meus dias eu me pego pensando em voltar a trabalhar com produção de merchandising. Isso ainda é uma hipótese de ter um emprego e não um trabalho a minha espera, mas hoje na condição de mãe, mulher, estudante e preguiçosa acho que já não me encaixo mais no perfil da loira bonitona.

Mas de uma coisa eu tenho muita saudade... do Ipê amarelo e das tardes tranquilas com cheiro de Jasmin.

4 comentários:

Gi Marthuesan disse...
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Gysella Mathias disse...

Parece que foi ontem hahaha
Eu lembro disso as pessoas passavam por ti na rua e perguntavam "tu é a guria que faz o 0800 na rádio?" e tu dizi:a deus me livre odeio a voz dela... e saia rindo!
E quando as pessoas te perguntavam qual teu emprego e tu dizia eu sou a guria do 33787878, sabe? E todo mundo dizia ah ta a guria da voz chata!

Te admiro muito e tenho saudades de ti!

Silvestre Silva Santos disse...

Tá brincando que era tu quem dizia aqueles números ??? !!!! - Eu to de porre às 10h34min da manhã, né? Diz que tô!!!! Caraca.... Como era CHATO aquilo, meu Deus. Sobre a voz, sabe que agora, tentando relembrar, nunca fiz objeções... Muito prazer senhorita 33787878.... kakakaka

Lari disse...

Jooooooosiiii
Tras pra mim uma camiseta da Cidade shaushuahsuahusa

Tá louco... aquele emprego era demais!!!!

Beijo Larissa